O Jornalismo no Brasil da Primeira Republica
As mudanças, no período da Primeira República (1889-1930), foram graduais e a consolidação empresarial, dos veículos, só daria depois de algumas décadas do novo regime. Uma exceção foi à criação do jornal do jornal do Brasil, um diário estruturado como empresa, que trouxe inovação, um sentido positivo para a época, e se tornou o maior jornal daquela época.
Um aspecto de transição, que se iniciou no fim do Segundo Reinado, foi a mudança de um jornalismo pouco estruturado como negócio para o jornalismo como empresa, bem como a transição, ao longo da Primeira República, da prática do modelo de jornal opinativo para o modelo do jornal de informação.
A fase inicial do regime republicano foi marcada pelas dificuldades políticas e econômicas envolvendo a imprensa e os regimes autoritários da época. Um quadro marcado por revoltas e radicalização das posições, explica os atentados a jornais (entre eles o Jornal do Brasil) o mesmo publicou um artigo de Nabuco no qual ele manifestava desilusão contra a República, à prisão de jornalistas (Olavo Bilac e José do Patrocínio).
Os equívocos, com relação à natureza do movimento no Arraial de Canudos, em 1897, aparentes desde cedo, pelos artigos que Euclides da Cunha, correspondente do jornal O Estado de S.Paulo, envia do sertão baiano. Outros três jornais também cobram o evento. Mas tarde dois jornalistas publicaram livros da campanha, antes de Euclides da Cunha. Porem a obra-prima sobre canudos seria o mesmo, Os Sertões, neste livro Euclides aproveita sua experiência jornalística sobre o conflito, para falar sobre o Brasil esquecido do sertão.
Outros aspectos interessantes foram às inovações técnicas introduzidas no jornalismo brasileiro do período, tanto no campo da impressão (máquinas mais modernas, que permitia o uso de fotos) quanto na produção informativa (com uso do telégrafo, máquinas de escrever etc.). As mudanças foram perceptíveis e os avanços constantes. Assis Chateaubriand era redator do Jornal do Brasil, mais tarde, em 1924, Chateaubriand comprou o periódico carioca O Jornal dando início a construção de uma rede de jornais.
Figura polêmica e controversa, Chateaubriand já foi chamado de Cidadão Kane brasileiro
Outro nome que se tornou grande no império da comunicação, Irineu Marinho (pai de Roberto Marinho) fundou, em 1925, o jornal O Globo. Neste período a imprensa documentou várias crises, entre elas a Revolta da Chibata, a Greve Geral 1921 e o episódio das “Cartas Falsas”, publicadas no Correio da Manhã (Rio de Janeiro) em 1921.
Em 1927, dá se o inicio da chamada Coluna Miguel Costa - Luís Carlos Prestes. Liderados por Luis Carlos Prestes, a Coluna Prestes percorreu 24mil quilômetros em três países, no Brasil, Paraguai e Bolívia.
Caminho percorrido pela Coluna Prestes
O objetivo propagar os ideais de revolução contra as oligarquias e destituir o presidente Arthur Bernardes. O efeito da coluna foi simbólico, sinalizando os setores urbanos possibilitando mudanças. Em 1929 a situação econômica deteriora-se com a quebra da bolsa de nova Iorque e o rompimento da política do café com leite coma indicação do paulista Júlio Prestes para presidente da República. A crise abre espaço para revolução de 1930 e dá inicio a uma nova fase da história brasileira, com a posse de Getúlio Vargas como chefe do Governo Provisório, marcando o fim do Estado Velho.
No jornalismo o significado do regime que nasce esta ligada ao plano mais imediato, as políticas de industrialização, e melhorias nas condições sociais das classes trabalhadoras e das camadas médias auxiliam e reforçam a imprensa ao permitir uma ampliação do mercado consumidor.
Além da grande imprensa
O maior indício do crescimento da imprensa do país na Primeira República, e do desenvolvimento do capitalismo, é o fato de que, a grande imprensa assume seu papel, aparecendo outros tipos de jornalismo, produzidos por grupos específicos. Chega então, o surgimento da imprensa negra com o engancho do periodismo operário e, também, em menor grau dos meios de divulgação do modernismo espalhando o aumento de uma complexidade social.
Em relação entre imprensa e literatos foi comum, pois os modernistas colaboraram com os jornais, criando uma série de revistas, dedicadas a propagar suas idéias, durante toda a década de 20, entre outras, Revista de Antropofagia (1928), em São Paulo, Estética (1924). Tais revistas tiveram vidas efêmeras, mas alcançaram repercussão nos meios intelectuais. Houve também uma tentativa de atualização gráfica, nem sempre bem entendida, cujo melhor exemplo é Klaxon.
Revista Klaxon (1922) - "Foram os klaxistas que conseguiram anúncios de quarta capa - dos chocolates Lacta, do refrigerante Guaraná etc."
A imprensa negra, aquela que é dirigida e produzida para os negros, foi colocada antes por publicações que apoiaram o abolicionismo que tiveram sua principal justificativa. Porém, a partir do século XX, distinguiu-se com uma expressão específica. Embora as publicações nem sempre tinham uma longa duração ou até mesmo, grande númerode leitores, testemunharam preocupações e anseios da comunidade negra brasileira.
Apesar das condições difíceis, o jornalismo operário substituiu, ajudando na organização do nascente proletariado. Esse jornalismo passou a ter forte influência do Partido Comunista, fundado em 1922- que lançou A Classe Operária, com tiragem de 25 mil exemplares. O jornal sofreu várias e foi depredado em 1929.
A partir de 1930, durante o período getulista, a classe trabalhadora ganhava direitos, mas perdia reivindicação e liberdade política, e assim desarticularam- se os sindicatos autônomos, e os comunistas foram perseguidos.
A ditadura militar é outro episódio que, posteriormente, foi responsável por um esvaziamento do conteúdo político da imprensa operária. A partir daí ela se baseou em sindicatos e, passou a defender as reivindicações locais dos trabalhadores.
O controle da imprensa na primeira fase getulista e o período populista
Getúlio Vargas, figura dominante na política do país durante mais de duas décadas, em caricatura de Théo.
A Revolução de 1930 marca uma mudança no patamar de desenvolvimento do Brasil. Embora a nova organização política em seu ínicio e nos anos posterios, trousse antraves ao jornalismo, devido ao controle exercido pelo Estado, houve um avanço um avanço em termos tecnológicos e de mercado.
O rádio assume um papel importante já na década de 1930 e, assim como os jornais impressos. Posteriormente, com a primeira emissora de Tv (1950), todos esses meios irão refletir e atuar no processo sócio- político nacional, em epsódios como o suicídio de Vargas e a renúncia de Jânio e o golpe de 1964.
A revolução de 1930 inicia uma forte mudança em todo o país, por uma forte centralização política; pela a atuação do Estado no desenvolvimento do capitalismo nacional, com base na industrialização. O líder da Revolução, Getúlio Vargas, domina a cena política do país, como chefe do governo provisório (1930-1934), presidente eleito pelo povo indireto (1934-1937) e ditador (1937-1945). Voltaria ao poder, pelo voto popular mas em 1950, sem chegar a completar seu mandato devido ao seu suicídeo em 1954.
A Revolução beneficiara a imprensa ao projetar uma ampliação do mercado consumidor, a nova situação não era muito diferente da Replública Velha: empastelamento de jornais, prisão de jornalistas, censura, venalidade por parte da imprensa. Efetivava- se ainda, ao longo do período Getúlio Vargas, tendências anterios da imprensa: o caráter mais informativo que doutrinário do jornal e a feição administrativa empresarial. Esta última caracterítica explica o surgimento de grandes corporações que lidam agora também com o rádio e, depois, com a Tv, bem como a contralização de imprensa, com o desaparecimento de muitos veículos. A imprensa jornalística passará a ter, como nota Sodré- “dimensões e complexidades tais que o capitalismo para montá-la está ao alcance de poucos”.
A imprensa no período de Getúlio Vargas
Na década de 30, o país passava por crises políticas. No período de Getúlio Vargas, A Gazeta de São Paulo tomou a frente da Revolução de 1930 e do Movimento Constitucionalista, por isso foi empastelada por getulistas. Os revoltosos, além de incendiarem as instalações, destruíram o relógio (símbolo máximo do jornal).
O Diário Carioca que apoiara inicialmente o governo passou para a oposição, assim como outros jornais. A radicalização política dos tenentes representou o maior perigo para Getúlio Vargas. Nos anos posteriores à Revolução, uma cisão política: alguns defendiam a reconstitucionalização do país (caso da maioria da imprensa), enquanto outros pretendiam alongar o governo provisório.
É nesse contexto, aliado a uma marginalização das elites paulistas, que ocorre a Revolução Constitucionalista de 1932 (movimento armado ocorrido no Estado de São Paulo que tinha por objetivo a derrubada do Governo Provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova constituição para o Brasil). É importante saber que o rádio foi utilizado intensamente para transmitir mensagens de estímulo e apoio ao movimento paulista, tendo pela primeira vez forte influência no processo político brasileiro.
O rádio abandonara o caráter amador com que fora implantado, e o número de aparelhos aumentara bastante no país. (Isso explica, portanto, a preocupação do governo federal em proibir que as emissoras de fora de São Paulo noticiassem a revolução paulista).
O rádio na década de 1930
No jornalismo impresso, estavam de apoio ao movimento constitucionalista jornais como: Estado de S. Paulo e A Gazeta; nesse momento passou a ser utilizado fotografias como instrumento de propaganda.
Apesar do desequilíbrio de forças, a luta durou três meses e uma nova Constituição foi promulgada em 1934; Getúlio Vargas, eleito pelo voto indireto dos constituintes.
Assim, o processo político desse período é marcado pela organização da Ação Integralista Brasileira (AIB), criada em 1932, versão das ideologias totalitárias. Já os comunistas organizaram a Aliança Nacional Libertadora (ANL), fundada em março de 1935.
A ANL chegou a publicar no jornal A Manhã, que circularia até novembro de 1935. Porém, Luís Carlos Prestes, indicado como presidente de honra da ANL, num gesto pouco hábil, escreve um manifesto contra o “governo odioso” de Vargas, o que deu pretexto para o governo fechar a ANL no mesmo de sua criação.
O comunismo abre caminho para o autoritarismo – a censura a imprensa torna-se normal, criam-se órgãos de repressão política, o país vive em estado de sítio até junho de 1937- que conduziria a ditadura do Estado Novo.
O Estado Novo, o DIP e a imprensa
A ditadura no final de 1937 piora a situação da imprensa: a censura, tornada institucional, assume maior severidade, com o rádio sofrendo o mesmo efeito; novos jornais são proibidos e alguns dos existentes, fechados.
O governo procura ainda comprar a opinião de jornais, ou então subordiná-los, caso de O Estado de São Paulo, que é tomado pelo governo, em 1940, sob a acusação de que existiam armas em sua sede.
Para coordenar a censura ao jornalismo, o governo cria, em 1939, o DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda (órgão de inspiração fascista).
Além da censura à imprensa, o DIP utilizava outros expedientes, dentre eles a produção do programa radiofônico diário Hora do Brasil. A criação de publicações mostravam o Estado Novo como o ápice dos ideais da Revolução de 1930, contrapondo um Brasil desunido e dominado pelas oligarquias ao Estado revolucionário.
A figura de Getúlio Vargas era trabalhada com o objetivo de representar o perfil de uma autoridade zelosa, uma espécie de pai simbólico da nação, que distribuía benefícios ao povo em troca de fidelidade.
Segunda Guerra Mundial
Para informar a população sobre o conflito, em 1941, surge o Repórter Esso, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que utilizava informes preparados pela UPI e que durante seus 27 anos de existência foi um dos jornais radiofônicos mais populares do país. Os jornais impressos por sua vez, começam a criticar os países do Eixo e nesse sentido o trabalho do cartunista da Folha da Manhã e outros veículos é emblemático: antinazista. A entrada do Brasil no conflito, todavia, coloca em xeque a própria autoridade do Estado Novo. Em 1945, o Correio da Manhã publica uma entrevista, feita pelo repórter Carlos Lacerda com o ex-ministro de Vargas, na qual ele critica o Estado Novo e diz que a oposição já possuía candidato.
O Repórter Esso - O primeiro noticiário do rádio brasileiro, foi ao ar há 70 anos
O período democrático e a crise do populismo
Em 1951, Vargas vence a eleição e tomou posse, mesmo com a oposição da maioria da imprensa, exceto do jornal Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que assumia posições inconstantes e cobrava caro pelo apoio.
A oposição por vezes bastante dura dos jornais ao governo foi o estimulo para a criação do jornal Última Hora, por Samuel Wainer em 1951. Este jornal marcaria época por uma serie de inovações como: diagramação mais arejada, fotos, caricaturas, manchetes, reportagens ligadas ao cotidiano popular, enfoque de apoio às causas dos trabalhadores, apesar do tom varguista – o presidente nunca era culpabilizado pelos problemas, diferentemente de seus subordinados.
É certo que Última Hora nascera de uma conjunção de interesses: Wainer queria possuir um jornal e Vargas precisava de um veiculo que o defendesse daí os empréstimos liberados por órgãos oficiais praticamente sem garantias. O sucesso de Wainer e os rumos nacionalistas tomados pelo governo pioraram a relação de Getúlio com o resto da imprensa, e até os Diários Associados passaram para a oposição.
Carlos Lacerda havia dado uma guinada ideológica no fim dos anos 1940; deixando de lado seu passado esquerdista, tornou-se defensor do liberalismo econômico, do catolicismo e dos valores morais conservadores. Seu jornal era marcadamente político, combatendo Vargas em tudo que era possível. A tiragem da Tribuna (veiculo de Lacerda) era menor que a do jornal de Wainer, porém, era um jornal influente nos meios políticos. Era por meio da Tribuna que se manifestava a opinião mais radical da UDN.
A campanha anti-Wainer/Vargas feita por Carlos Lacerda é apoiada por O Globo e Chateaubriand. O jornalista passou a ter bastante acesso à rádio do primeiro grupo e à TV Tupi para atacar seus inimigos. É a primeira vez que a TV atua numa crise política.
E num episodio desastrado, os aliados do presidente dão o motivo que a direita precisava para romper o limite da legalidade, um atentado a Lacerda malsucedido.
Embora fosse impossível comprometer pessoalmente o chefe de governo, as investigações da policia e da Aeronautica embaraçam Vargas e o movimento pela renuncia cresce. O presidente tenta resistir, mas havia perdido o apoio das Forças Armadas. Isolado, realizou um último gesto político: o suicídio.
O efeito da última mensagem do presidente foi imediato, repercutindo num clima de ódio à oposição. No mesmo dia do suicídio, caminhões de O Globo foram queimados, o Diário de Notícias e a Tribuna da Imprensa são depredados por uma multidão; Lacerda passara de vítima a vilão.
Grupo: Jefferson Santos e Letícia Mecatti